Juliana Foto Comunicação IFRSEm todo o Brasil, estudantes e servidores da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica se destacam em projetos de inovação, com prêmios, patentes e participação em eventos nacionais e internacionais. Por meio de pesquisas no ambiente acadêmico público, descobrem-se novas tecnologias que geram conhecimentos e alternativas. Isso envolve inúmeras possibilidades como a prevenção de enfermidades, soluções para o dia a dia, a preservação da vida e do meio ambiente, o reaproveitamento e o uso responsável dos bens naturais.

Iniciativas premiadas como o Catchpooh: Aproveitamento de Resíduos para Biossíntese de Celulose e Confecção de Embalagem, e outras com patentes registradas como o Adubo em Cápsulas e o dispositivo de Algômetro Vestível Flexível demonstram a capacidade do ensino gratuito e de qualidade. Curioso para saber mais? Conheça um pouco sobre cada uma dessas criações originais que nasceram na Rede Federal.

Do interior para o mundo – Com aproveitamento da casca de noz macadâmia, a pesquisa Catchpooh: Aproveitamento de Resíduos para Biossíntese de Celulose e Confecção de Embalagem foi desenvolvida pela estudante Juliana Estradioto, do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Osório, sob orientação da professora Flávia Twardowski e coorientação do docente Thiago Maduro.

O resultado rendeu à gaúcha o 1º lugar na área de Ciência dos Materiais na maior feira de ciências do mundo, a Intel International Science and Engineering Fair (Isef), que ocorreu de 12 a 17 de maio de 2019, em Phoenix (EUA), e contou com a participação de mais de 1.800 estudantes de 80 países. A vencedora ainda recebeu como prêmio a chance de “batizar um asteroide com seu nome”.

Arquivo pessoal Juliana

Juliana transformou a casca da noz macadâmia em farinha que, em cultivo com outros nutrientes, serviu de alimento para microorganismos, os quais produziram membranas. Essas, compostas de celulose, podem ser utilizadas em curativos para pele queimada ou para machucado, pois possuem características como flexibilidade e resistência. Outro uso possível é na elaboração de embalagens para o recolhimento de fezes de cachorro, em substituição ao plástico. Além de ecologicamente correta, a descoberta também seria mais acessível ao bolso.

Na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada em março de 2019, na Universidade de São Paulo (USP), ela conquistou diversas premiações: o 1º lugar em Ciências Agrárias, o 2° lugar no Prêmio Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular e o Prêmio Destaque Unidades da Federação como melhor trabalho do Rio Grande do Sul. Em 2018, recebeu o prêmio de Jovem Cientista na categoria Ensino Médio, com o projeto Desenvolvimento de um Filme Plástico Biodegradável a partir do Resíduo Agroindustrial do Maracujá, também criado no IFRS – campus Osório.

“Em minha passagem pelo campus Osório, descobri que sou apaixonada pela pesquisa e quero ser uma cientista. Muitas vezes, foi exaustivo. Chegava às 6h30min no IF e ia embora às 22h. Mas era muito bom ficar no laboratório, eu sentia que finalmente tinha encontrado meu lugar”, comenta animada. Com relação aos reconhecimentos e premiações, relata: “eles foram muito mais importantes do que só no âmbito acadêmico. Acredito que servem justamente para me mostrar que eu posso ser quem eu quiser, e que ser uma mulher jovem na ciência não vai me impedir de conquistar meus sonhos”.

E o asteroide com seu nome? “Acho muito emocionante. Quando eu era criança, queria muito ter meu nome nas estrelas porque queria ser cantora. Agora eu tenho e foi através da ciência”, diz. “Estou muito orgulhosa de ter estudado na Rede Federal, não só pela qualidade do ensino e pelas oportunidades que eu jamais imaginei, mas por ter me transformado em uma cidadã mais ativa e questionadora”, diz a egressa do IFRS que se prepara para ingressar na faculdade e aguarda ansiosamente a chegada de dezembro, quando participará da Cerimônia de Entrega do Prêmio Nobel da Paz, em Estocolmo, Suécia.

Inovação para adubar – Os alunos do curso Técnico em Agricultura Joabini Alves da Silva e Luigi Zanfra Provenci, do campus Lagoa da Confusão do Instituto Federal de Tocantins (IFTO), sob a idealização e coordenação do professor de Agronomia Reinaldo Medeiros, criaram o Adubo em Cápsula para atender o público leigo que não se familiariza, não tem acesso ou não sabe fracionar e utilizar os fertilizantes químicos.

“Garantimos que não haverá erro na adubação, ou seja, nosso adubo é fracionado planta a planta, dosado e capsulado. A cápsula pode ser imersa ou depositada sobre a terra, regada e, de 15 a 30 minutos, começa a agir”, comenta o professor. Ainda segundo ele, este seria o único produto que cumpre todos os requisitos nutricionais. “Ao todo, a planta precisa de 14 nutrientes. Em nosso adubo oferecemos 13. O último, o níquel, é fornecido pela água no momento a irrigação”, explica. O composto pode ser utilizado a cada 10 ou 15 dias, e os materiais possuem dois tamanhos para uso de acordo com a idade da planta.

alunos do IFTO arquivo pessoal

As cápsulas, feitas de gelatina, são personalizadas em cores. “O usuário visualiza os potinhos com cápsulas coloridas e começa a se familiarizar. As verdes são destinadas às hortaliças folhosas como alface, rúcula, couve. As amarelas para hortaliças frutíferas – berinjela, pimentão, tomate. E as rosas, para flores como azaleia”, reforça Medeiros.

No dia 19 de junho de 2019, o IFTO protocolou o pedido de registro de patente do adubo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A proteção da propriedade intelectual, desenvolvida pelos professores Reinaldo Ferreira Medeiros, Rogério Lorençoni e Danilo Akio de Sousa Esashika, garante aos inventores a exclusividade na exploração e vantagens competitivas. “Com mais esse depósito de patente, o IFTO cumpre seu papel como agente de fomento de conhecimento e de transferência de tecnologia à sociedade, impulsionando diretamente o setor produtivo e o mercado de trabalho e, indiretamente, a qualidade de vida das pessoas”, afirma o coordenador do projeto.

Para ele, os institutos federais hoje têm acesso a insumos que antes eram praticamente inacessíveis. “Um bom exemplo disso é que será criada, ainda neste ano, uma incubadora de empresas em um pequeno campus no interior do Tocantins, o Campus Avançado de Lagoa da Confusão, onde os estudantes, professores e comunidade terão acesso a equipamentos sofisticados como impressoras 3D, laboratórios, computadores de alto desempenho e uma infraestrutura adequada para o aprimoramento de ideias”. E finaliza: “por esses motivos, entendo que a Rede Federal comemora com muita dignidade os 110 anos, especialmente por se consolidar no rol de agentes públicos que produzem inovação e tecnologia e as transfere ao público em geral”.

AlgômetroPara a saúde – Algometria é a medição da sensibilidade à dor, causada esta por pressão. Para essa mensuração, usa-se o aparelho chamado algômetro. Com o objetivo de facilitar a vida de médicos e fisioterapeutas, por exemplo, um grupo de alunos e docentes do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) idealizou o Algômetro Vestível Flexível.

A pesquisa foi realizada em 2015 e 2016, no Laboratório de Controle Aplicado do IFSP, pelos estudantes do curso de Engenharia de Controle e Automação e Engenharia Eletrônica Bárbara Carneiro Pulcineli, Caroline Marinho Mano, Fernanda Maria Bréder Esteves, Fernando Cruz Nakandakari, Ingo Lourenço Sewaybrick e Luana Duarte Gagliardi, coordenados pelo professor Alexandre Brincalepe Campo. O invento foi concebido em parceria com o professor Ulysses Fernandes Ervilha, da Universidade de São Paulo (USP).

Trata-se de uma luva, com sistema de medição baseado em Sensor de Efeito Hall, que permite quantificar dados como o limiar e a tolerância à dor, parâmetros fisiológicos de maior subjetividade dentre as informações que os profissionais da saúde precisam obter de seus pacientes. Algumas das vantagens e benefícios são: diagnósticos mais precisos quanto aos níveis de sensibilidade, melhor acompanhamento da evolução de tratamentos relacionados à dor e dosagem de medicamentos, e aferições que dispensam outros aparelhos.

“Pensamos em um equipamento portátil, algo leve, facilmente manuseado e que possa ser usado durante várias vezes ao dia. O sensor na ponta do dedo [indicador] transmite os dados para um dispositivo que fica na luva e posteriormente para um aplicativo de celular. Este aplicativo trataria os dados e transmitiria para o médico que pode acompanhar a evolução dos limiares de dor de um paciente ao longo do dia”, esclarece o professor Alexandre.

Os direitos do Algômetro Vestível Flexível também estão assegurados, pois o pedido de proteção de patente já foi realizado no INPI. “Conseguimos fazer o depósito e, no momento, estamos buscando empresas que tenham interesse em licenciar essa patente e transformar num produto”, relata.

O Laboratório de Controle Aplicado do IFSP possui vários outros estudos em parceria com empresas e hospitais e conta hoje com cinco depósitos de patentes. O mais recente foi patenteado em 2019: a Garra Robótica Mole, um instrumento que consegue pegar um objeto qualquer sem machucar. “Conseguimos inscrever a patente deste projeto, depositá-la e agora já temos uma empresa interessada em licenciar e produzir. Esse novo equipamento não possui nenhum similar no mundo, realmente trata-se de uma inovação”.

 

Fabiana Carvalho Donida

Jornalista do Departamento de Comunicação do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)

Fotos: Divulgação Rede Federal

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