ENTREVISTA - "O diálogo sobre permanência e êxito precisa ser conjunto: ensino, pesquisa e extensão"

Confira a entrevista de Ruy Aguiar, coordenador do Fórum de Pró-Reitores de Extensão (Forproext) do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif). A reunião do Fórum aconteceu entre os últimos dias 26 e 29 de abril, na Reitoria do IFBA, no bairro do Canela, em Salvador.


Portal do IFBA: Permanência e êxito é uma questão importante nos institutos federais, que ganhou novos contornos no pós-pandemia e que está pautada agora nos eventos dos três fóruns finalísticos do Conif (Ensino, Pesquisa e Extensão) que estão sendo realizados em Salvador. É possível sintetizar qual é o grande desafio, na perspectiva da Extensão, com relação à questão da permanência e êxito na Rede Federal?


Ruy Aguiar: Primeiro dizer que é um prazer estar aqui com vocês e reunindo os três fóruns numa ação conjunta – ensino, pesquisa e extensão. Não fazia sentido, do jeito que nós vínhamos realizando nossas reuniões, separadamente, mesmo sabendo de pautas como essa que você colocou, que é permanência e êxito, que atendem tanto ensino, quanto à pesquisa e a extensão. Enquanto desafio, inclusive um desses está pautado agora: a nossa ideia é redigir um documento direcionado para o Conif para que haja uma padronização, por exemplo, da utilização de recursos da Assistência Estudantil para fins de projetos de Extensão.  E isso acarreta o quê? A permanência e êxito do estudante, sobretudo daqueles estudantes que estão em situação de vulnerabilidade social. Bolsas acadêmicas para alunos de cursos integrados, o que não é, por incrível que pareça, uma unanimidade permissiva na Rede. Algumas instituições permitem – bolsas acadêmicas de Extensão para alunos de ensino médio – e tem outras instituições que não permitem. Tem várias ações, mas eu diria que o mais importante é o que vai acontecer aqui agora: o diálogo ser conjunto. É inadmissível, não é razoável que uma importante proposição como essa ser tratada somente pelo Ensino. Permanência e êxito é ensino, pesquisa e extensão. Tudo é ensino, pesquisa e extensão. Então, penso que o desafio maior é a maturidade que a gente tem que crescer no diálogo. 


Portal do IFBA: E um momento como este é uma oportunidade...


Ruy Aguiar: É um momento ímpar! [enfático]. É um dos primeiros...se eu não me engano é a primeira reunião conjunta com pastas conjuntas das três áreas. Nós tínhamos reuniões coincidentemente nos mesmos dias, porém em locais diferentes. Enquanto o FDE estava num prédio, o Forproext estava em outro e o Forpog, em outro também. Mas, de pautas conjuntas, todo mundo junto num auditório como este [Auditório 2 de Julho, na Reitoria do IFBA], é o primeiro deles, e eu me sinto muito feliz de estar vivenciando isso aqui agora com vocês.


Portal do IFBA: Curricularização da Extensão: a ideia é que ações, projetos e atividades de Extensão se incorporem ao currículo como algo fixo. Como será feita essa, digamos, costura entre ensino e extensão, seria essa a articulação mais difícil ou desafiadora?


Ruy Aguiar: Eu diria que não. O mais difícil foi o passo que nós demos no ano passado [2021], quando nós realizamos o primeiro seminário nacional de Curricularização da Extensão da Rede Federal. Ali foi um desafio maior, eu diria.  Porque até ali nós tínhamos concepções locais. O Instituto Federal do Pará, por exemplo, tinha as suas expertises, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul tinha outras, mas ninguém se comunicava, não havia diálogo. E neste seminário que realizamos no ano passado, nós conseguimos mapear, exatamente no dia 17 de junho de 2021, toda a Rede. Temos valores percentuais de PPCs curricularizados, de turmas que já foram formadas com PPCs curricularizados, que instituto é que está oferecendo isso etc. Então, aquele primeiro passo foi bem difícil. O segundo passo, agora, após um ano, é em junho – a intenção, a pretensão é que a gente realize o segundo seminário em junho próximo – para a gente ver o que quanto que caminhamos, o quanto que a Rede cresceu em termos de curricularização da Extensão e diálogo constante com o Ensino. Embora seja curricularização da Extensão, como você bem colocou, matriz curricular se encontra dentro do Ensino. Conversar com o Ensino no sentido de buscar sempre formas mais adequadas de inserir ações extensionistas dentro do currículo.

Portal do IFBA: E tem a necessidade de dialogar com a Pesquisa também...


Ruy Aguiar: Eu vou um pouquinho mais longe: embora não se fale nada da curricularização da Pesquisa em termos de legislação – o Forpog foi convidado justamente para essa pauta também, embora não haja nenhuma exigência legal, nós sabemos que é importante que, independe se é Extensão ou Pesquisa, está tudo ali dentro. Cada ano que passa, nosso orçamento vem sendo reduzido, então é uma forma também de fazer com que as coisas aconteçam estando dentro da matriz curricular, dentro do PPC, e não ficar dependendo apenas de um recurso para fins de execução.


Portal do IFBA:  É possível que isso não aconteça tanto nas instituições da Rede Federal como acontece em outras instituições de ensino: às vezes o estudante parece ter dificuldade para entender exatamente os contornos da Extensão. Ele consegue relacionar sua trajetória acadêmica com a área de Ensino com atividades em sala de aula, laboratórios etc; consegue identificar características e relevância das atividades de Pesquisa para sua formação, mas nem sempre tem clareza sobre o papel e as importantes contribuições da Extensão no seu processo formativo.


Ruy Aguiar: Minha querida do céu...eu diria que isso é muito difícil, mas por onde eu vou aí, eu costumo dizer o seguinte: nós temos as mesmas autonomias administrativa e financeiras que as nossas queridas primas, as universidades federais. Porém, o estar próximo, de fato, com a sociedade se chama institutos federais. Veja bem: as universidades federais fazem extensão da mesma forma como nós [institutos], só que conceitualmente falando em termos da real necessidade de estar próximo, sobretudo de quem realmente necessita, os Institutos Federais fazem isso com uma maestria incomparável. Anos-luz à frente das universidades federais. O problema é que boa parte da nossa comunidade – sobretudo os estudantes, mas tem gente também dentro da academia, independe se é técnico ou docente – que não sabe dessa proposição, não sabe para que realmente se faz Extensão.   É simples: tudo que se constrói dentro das quatro paredes das nossas instituições tem um propósito. Qual é o propósito: é que tudo isso que foi construído vá para a sociedade, chegue às pessoas. Como é que chega à sociedade? Extensão. Eu diria que a Extensão é uma ponte entre o que é produzido de conhecimento e o que a sociedade necessita. Porque a produção de conhecimento tem que ter um propósito e qual é esse propósito? A sociedade.  


Assessoria de Comunicação do Conif

Texto: Bárbara Souza – Ascom/IFBA

Foto: Ascom/IFBA

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