Avaliação dos Resultados da educação profissional e tecnológica é discutida durante Reditec 2022

A 46ª Reunião de Dirigentes das Instituições de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec) 2022, que ocorreu em Belém-PA no início de novembro, se consagrou como uma edição histórica, por diversos motivos: foi a primeira a ser realizada na Região Norte, desde a criação dos Institutos Federais; a primeira a contar com o governador do Estado e prefeito anfitriões na cerimônia de abertura; e uma das maiores em público participante. A dimensão do evento esteve alinhada à riqueza da programação e à abrangência das discussões, estruturadas sob a temática “Povos e Identidades na Educação Profissional”. Por isso, mesmo com o encerramento do evento, a Equipe de Comunicação da Reditec 2022 ainda tem muitas informações e detalhes para compartilhar a todos os Institutos Federais e à sociedade em geral, o que poderá ser conferido ao longo desta semana.


Nesta matéria, o destaque será dado à palestra e mesa-redonda que tiveram como foco a Avaliação: a palestra “Das Políticas de Avaliação à Avaliação dos Resultados na Rede Federal”, proferida pelo professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Manuel Fernando Palácios da Cunha e Melo (UFJF); e a mesa-redonda com o tema “Transformar e mensurar: a avaliação como estratégia de consolidação e avanço da Rede Federal”, mediada pela reitora do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Maria Leopoldina Veras Camelo, com a presença do pró-reitor de Ensino do Instituto Federal Fluminense (IFF), Carlos Artur de Carvalho Arêas, e o professor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), Gustavo Henrique Moraes. O evento foi transmitido e está disponível no canal do Instituto Federal do Pará (IFPA) no Youtube.


Foi consenso entre os convidados que o tema avaliação dos resultados da EPT é complexo e importante. Sem dados não há informação para tomada de decisões. Em suas falas, os pesquisadores buscaram evidenciar que a avaliação é uma estratégia de verificação se de fato o direito ao acesso à educação pública de qualidade está sendo garantido, se está sendo efetivo e atendendo às expectativas do ponto de vista dos educandos e das propostas das instituições. Enquanto estratégia de consolidação e avanço da Rede Federal, serve para nortear os gestores e a construção de políticas. 


Palácios dialogou sobre a experiência de avaliação cearense da EPT de nível médio, onde foram avaliados 20 cursos e 11 eixos tecnológicos. Explicou que esse sistema avaliativo foi desenvolvido em quatro passos: estabeleceram os objetivos detalhando quais informações e parâmetros serviriam de referências para avaliar, incentivar e regular a qualidade da oferta de educação; especificaram as expectativas compartilhadas quanto às habilidades comuns e padrões para acompanhar os resultados e processos de estudantes, unidades e sistemas educacionais, em matrizes de referência de cada curso e eixo, de modo que pudessem certificar os profissionais e acreditar instituições educacionais. Definiram as medidas de desempenho (grau de domínio do conhecimento e da prática profissional), os indicadores de rendimento, as condições de oferta (infraestrutura, qualificação e desenho acadêmico), indicadores de eficácia (empregabilidade e trajetória profissional), tudo de modo a estruturar as escalas de medidas de letramento e de habilidade profissional. E, por fim, a definição dos instrumentos e tecnologias necessários para o processo avaliativo que podem ser tradicionais (testes de habilidades e conhecimento) e de avaliação da performance destes profissionais.


A mesa redonda chamou a atenção dos diretores, pró-reitores e reitores da Rede Federal para a quantidade de dados de pesquisas recentes disponíveis para a melhor tomada de decisões sobre a educação. Estes dados apontam que mais da metade dos jovens brasileiros gostariam de fazer curso técnico após terminar o ensino fundamental; 68% deles sabem que terão de trabalhar durante o ensino médio; a taxa de escolarização no Brasil caiu drasticamente nas faixas de renda mais pobres a partir dos 15 anos - dois terços dos jovens brasileiros têm acesso ao ensino médio e um terço não consegue concluí-lo. Neste contexto, a Rede Federal apresenta os melhores indicadores, pois foi criada para materializar a EPT no país, – do curso de formação continuada, passando pelo curso técnico, pela graduação, a especialização, o mestrado até o doutorado. Na opinião de Arêas, é preciso discutir currículo, a permanência e êxito, levantar as causas da evasão, discutir as políticas de assistência. Arêas afirma que os gestores da educação não podem considerar que seja normal o fato de um, a cada dois alunos, não conseguir se formar. “Os alunos que ficam, ficam por conta da boa estrutura, do bom clima, da alimentação, da prática esportiva, por ter local adequado para estudar, por estar vinculados a projetos de extensão. A questão da evasão é muito mais ligada à política interna e estrutural, do que a problemas externos e pessoais. A evasão não é boa para o jovem, não é boa para a instituição e não é boa para o país. Precisamos promover a inclusão e sermos os responsáveis pela nossa própria reforma educacional. Estamos dispostos a isso?”, indagou Arêas.


Moraes, por sua vez, fez vários questionamentos quanto ao porquê avaliar a EPT. Não apresentou respostas, mas impulsionou o olhar dos gestores para suas próprias unidades no sentido de descobrir ali mesmo as causas do êxito e do fracasso. Em sua visão, a Plataforma Nilo Peçanha é uma forma de avaliação e que permite conhecer um pouco a Rede Federal de Educação. Pontuou que avaliar é dar valor, é valorizar a formação, e que não é possível valorizar a educação de trabalhadores e trabalhadoras se não a avaliarmos. Acredita que a avaliação dos cursos deve contemplar as expectativas dos estudantes, do sistema, da sociedade, dos setores produtivos e de serviços. O palestrante propôs que se construa um entendimento sobre o que é EPT para romper estereótipos. Ele afirma que a oferta educacional da Rede Federal é muito rica, conta com 13 eixos técnicos e mais de 800 denominações só em cursos técnicos.


Na opinião da pró-reitora de Ensino do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Alessandra Ciambarella Paulon, a avaliação é muito importante e pode ser feita desde que se saiba o que extrair como informação. Por outro lado, observa que nenhuma avaliação funcionará se ela não for construída dentro de um conceito de uma avaliação diagnóstica, dialógica e formativa. Para ela, a avaliação que se estrutura em metadados, ou que esteja voltada exclusivamente para ranqueamento, descaracteriza a função do instrumento em si como, também, descaracteriza a função da Rede. Neste sentido, destaca que é consenso a necessidade de existir um sistema de avaliação da EPT, a exemplo da realizada sobre a educação básica e superior no país. 


“Estas apresentações que acabamos de ver demonstram o quanto de informações temos enquanto Rede. Mas, mais que isso, mostram o quanto a Rede Federal vem fazendo a diferença na vida de milhares de estudantes. Quando a gente olha os índices de pró-eficiência em letramento, em matemática, a gente percebe que nosso trabalho vai além de uma formação meramente técnica. Que estamos formando integral e universalmente estes nossos estudantes”, esclareceu a pró-reitora Paulon.


O pró-reitor de pesquisa e inovação do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Francisco Kelson de Oliveira, que também participou da palestra e mesa-redonda, afirmou que a avaliação só é possível se feita a partir de uma matriz norteadora. Não pode ser entendida como mecanismo de punição e sim como instrumento para a Rede saber onde precisa aperfeiçoar, onde está bom e deve ser continuado, e onde está ruim e precisa ser corrigido. “A Rede precisa definir uma diretriz para que todos saibam o que seria avaliado, como seria avaliado e como poderíamos melhorar estes indicadores de ensino, pesquisa e extensão. Na graduação, na pós-graduação, nós temos um norte a seguir. E isso precisa ocorrer no ensino médio”, ressaltou. 


Equipe de Comunicação da REDITEC 2022

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